Você já parou para pensar como nossa mente constrói a realidade que vivemos? Muitas vezes, acreditamos estar contando uma história verdadeira, baseada em fatos. Mas, na verdade, nossa mente cria algo muito parecido com fábulas — narrativas que podem estar distorcidas, enviesadas e repletas de sombras que influenciam nossas emoções e comportamentos.
História x Estória: Entendendo a Diferença que Faz Toda a Diferença
Na língua portuguesa, existe uma distinção interessante entre os termos “história” e “estória”.
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História refere-se a fatos reais, acontecimentos concretos que realmente ocorreram.
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Estória (palavra em desuso) se refere a contos de fada, fábulas e narrativas inventadas, muitas vezes utilizadas para transmitir ensinamentos ou entretenimento.
Por que essa distinção importa para a nossa mente? Porque nosso cérebro, apesar de tentar nos mostrar a verdade, muitas vezes nos apresenta “estórias” — versões distorcidas ou enviesadas da realidade que parecem verdadeiras, mas que são criadas para nos ajudar a economizar energia mental e facilitar decisões rápidas.
A Mente Enviada: O Cérebro Que Economiza Energia e Nos Protege
O psicólogo e pesquisador André Rabelo explica que nosso modo de pensar e processar informações é enviesado. Isso significa que nossa mente não funciona como uma câmera que registra tudo exatamente como aconteceu, mas sim como um filtro que privilegia certas informações e descarta outras para nos proteger.
Uma das grandes proteções que nosso cérebro oferece é a atenção ao negativo. Por razões de sobrevivência, nosso cérebro é programado para dar mais destaque ao que pode representar ameaça ou perigo.
Por isso, mesmo quando tudo vai bem, muitas vezes você sente uma inquietação, uma dificuldade para relaxar — é o cérebro sinalizando para você ficar alerta.
Crenças Enraizadas: Filtros Que Moldam Nossa Realidade
Além desse viés natural, carregamos conosco crenças formadas na infância e ao longo da vida que funcionam como filtros para interpretar o mundo. Essas crenças podem ser limitantes, como “não sou capaz”, “não mereço ser feliz” ou “o mundo é perigoso”. Elas moldam nossa percepção e as histórias que contamos a nós mesmos.
Você já se perguntou por que duas pessoas podem lembrar de um mesmo evento de formas completamente diferentes?
Pense nos casos de júri, onde juízes ouvem várias testemunhas. Cada testemunha dá uma versão diferente do que viu, ouviu ou sentiu — e todas estão certas dentro do seu ponto de vista. Uma pode focar nas expressões das pessoas, outra no tom da voz, outra no que foi dito literalmente, e outra no clima emocional daquele momento.
Nossa Mente e Suas Sombras: Quando a Realidade Se Confunde
Com tudo isso, será que dá para confiar cegamente na mente, se ela está cheia dessas sombras — crenças limitantes, memórias enviesadas e tendências a focar no negativo? A resposta é: precisamos aprender a reconhecer essas sombras para não sermos escravos delas.
Essa “bagunça” interna pode nos levar a ansiedade, estresse, tristeza e até bloqueios em nossas relações e objetivos. Entender que nossa mente cria versões da realidade, e que essas versões podem ser ajustadas, é o primeiro passo para recuperar o controle sobre nossos pensamentos e emoções.
Como lidar com as “estórias” da mente e buscar o bem-estar?
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Consciência dos pensamentos: Comece observando suas narrativas internas sem julgá-las. Pergunte-se: “Isso é um fato ou uma interpretação minha?”
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Questione crenças limitantes: Anote quais são as crenças que aparecem repetidamente e analise sua origem e validade.
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Pratique o desapego emocional: Entenda que suas emoções são respostas que podem ser reformuladas, não sentenças definitivas.
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Procure ajuda profissional: Técnicas como a hipnoterapia e a terapia cognitivo-comportamental são excelentes para acessar esses filtros mentais e promover ressignificação.
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Cultive o autoconhecimento: Quanto mais você conhece seu funcionamento mental, mais capaz fica de escolher onde focar sua atenção e energia.
Conclusão: Sua mente não é a verdade absoluta — você pode reescrever sua história
A mente humana é fascinante, mas também complexa e cheia de nuances. Ela cria estórias que, muitas vezes, confundimos com a história real. Entender essa diferença, e como nosso cérebro funciona para proteger e poupar energia, é fundamental para desenvolver uma relação mais saudável com nossos pensamentos e emoções.
Lembre-se: você não é prisioneiro das versões que sua mente cria. Ao desenvolver consciência e buscar ferramentas para lidar com esses filtros, você pode transformar suas “estórias” em histórias que promovem paz, equilíbrio e felicidade.